A MORTE DA INFÂNCIA

Os grilhões da opressão o mantinham preso em calabouços de desilusões.

Em todos os cantos em que podia enxergar o mundo que o cercava, percebia o caos em que aos poucos a humanidade havia enterrado o seu cotidiano.
           
E quanto mais ele conhecia as pessoas, mais compreendia que tudo não passava de um inevitável efeito colateral onde, ao mesmo tempo em que era catastrófico, era igual e proporcionalmente justo se fosse levado em conta à injustiça dos que podem mais, para com os que podem consideravelmente menos.
           
Ele percebeu o quanto a humanidade havia tornado-se corrupta e que por tanta deslealdade de uns para com os outros, os governantes não passavam de espelhos mais bem sucedidos de uma população, a quem ludibriavam.  
           
Contudo, depois da luz, fizeram-se novamente trevas, e seus pensamentos tornaram-se noites entorpecidas de um absurdo breu. Enquanto a última chuva escorria a última gota de lágrima de seus olhos, agora quase secos pela noite de reflexão e choro, seu corpo estava paralisado e sua voz quase não possuía mais forças para pronunciar um silencioso grito de socorro.
           
As manchetes de jornais levitavam perante seus olhos, e o sangue que escorria das páginas policias se metamorfoseavam em sequestros, assaltos, queimadas e poluições.
           
Milhões de perguntas atropelavam a dor e o medo que até então sentira, e pairavam em sua mente como se, agora, nada mais tivesse tanta importância.

Afinal, como o mundo havia mudado tanto a ponto de se instaurar o caos e a desordem do dia para a noite? Será que os anos no qual ficou sob as asas protetoras de seus pais o segaram tanto, a ponto de a verdadeira face do mundo perder a sua cruel forma?

A angústia apertava seu peito...

O suor escorreu por seu rosto, até que já não se podia mais ser distinguido quais eram as gotas de lágrimas do que eram gotas de suor.

Por fim, então, fez-se um dia e uma noite desde que a venda que envolvia seus olhos foi rompida, e a luz da razão deflorou sua visão com a voracidade de um animal completamente faminto pelos primitivos prazeres do sexo.

Para ele, nunca mais o céu seria tão azul e as pessoas, tão cordiais como antes pareciam ser.



Texto do livro "Depressão: delírios na madrugada" 
do escritor Jaddson Luiz
(A obra pode ser adquirida aqui pelo blog)


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