MAKTUB: JÁ ESTAVA ESCRITO



Envolvidos por uma maré de acontecimentos que tratou de escrever seus encontros e desencontros na singela parte que lhes cabia na história da humanidade, de repente eles se deparam com sentimentos que se completavam, mesmo que passageiros e breves, sem que palavra alguma fosse dita.

No que diz respeito a ele, algo bastante indefinido o fazia crer, até aquele momento, que o olhar daquela instigante desconhecida o seduzia e o intimidava. A voz também lhe parecia um espetáculo a parte, pois gostou do jeito como a garota falava, sempre de uma forma tão livre e espontânea que indiscutivelmente acentuava aquele timbre tão agradável aos ouvidos. Enquanto conversavam por horas, os olhares se cruzavam e, mutuamente, afrontavam-se.

Com a sensação de já ter vivido aquele momento, mas reprimido pelo receio de parecer piegas, hesitou por várias vezes em expor as vísceras de suas impressões e devaneios. Embora ele fosse cauteloso, ela, impulsiva e livre, deixou-se envolver pelo que sentia sem muito refletir. Pensar poderia ser a distância intrafegável entre o fazer e o não fazer.

Ao fim do impacto avassalador provocado pelo primeiro beijo, ele, ainda embriagado por uma paixão momentânea, talvez passageira, mas com certeza arrebatadora, deixou-se domar por seus pensamentos e expressou: - Existe uma palavra pra esta situação chamada Maktub e significa: já estava escrito.

Ela sorriu e disse: - Nós só temos o hoje, pois o amanhã não existe...

Embora entendesse a incredulidade que envolvia o espírito da garota, algo lhe dizia, mesmo na surdina, que eles já haviam vivido muitos “hoje” ao longo dos tempos. O sorriso dela se comunicava com o dele de uma forma que ia para além do corpo e transbordava os limites que a compreensão racional poderia lhes permitir.


Ele sorriu e pensou: - pode até não ser nesta, mas em outra vida nos encontraremos de novo... Maktub...


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